O cenário desta vez é o deserto. Deserto é lugar de desafios. Diz a palavra de Deus que Jesus foi levado pelo Espírito para ser tentado pelo diabo. O deserto expõe os limites do Senhor Jesus como pessoa humana. Durante toda a história do povo de Israel o deserto tem sido o local onde o povo teria que passar; O deserto no antigo testamento em que o povo caminhou rumo à terra prometida é uma prefiguração do caminho percorrido para a crucificação, a via-sacra. O maior deserto de Jesus não é desta narrativa de 40 dias, mas o caminho percorrido do sinédrio até o calvário, este sem duvida um desafio de sobrevivência.
Nesta narrativa o demônio se aproxima de Jesus, justamente por ele estar no deserto; aprendi que o momento em mais somos tentados é quando estamos sós. O deserto traz solidão; esta é uma das lutas enfrentadas aqui neste cenário. O demônio não perderia esta oportunidade de estar diante de um Deus “aparentemente fragilizado” por causa da solidão do deserto. A mortificação trazida no corpo de Jesus, o desafio de jejuar durante todos estes dias era apenas uma pequena amostra daquilo que o Senhor iria suportar na sua paixão.
Três tentações apresentadas. O aspecto negativo, tríplice, ameaçador diante de um homem em solidão no deserto. Então o demônio solta o seu primeiro veneno: Se és filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pão (Mt 4,4). O desafio de saciar a fome, ou ao menos amenizá-la. O demônio sabia que essa poderia ser uma possível fraqueza do filho de Deus. É evidente que o diabo se apresenta depois de ter observado Jesus. Viu o aspecto já um tanto frágil de um “Deus-homem” chegando ao próprio limite. Por isso apresenta algo que de fato Jesus precisava naquele momento, para desviá-lo da vontade de Deus. Aqui alerto você para observar algo: O demônio sabe da sua fraqueza, então ele te dará coisas, aparentemente de forma oportuna, para desviar você da vontade de Deus. Jesus de fato estava com fome, mas não se rendeu ao desejo do diabo. Cuidado! Coisas certas em horas erradas podem trazer um estrago em sua vida. Depois de ouvir ao Senhor, persevere diante dos desertos para que se realize a soberana vontade de Deus.
Na segunda tentação, o diabo desafia Jesus a se jogar afirmando o que está no salmo 90, que os seus anjos o sustentariam em suas mãos. Parece-me que o diabo queria ver um espetáculo naquela que seria a próxima cena. E desta vez ele mostrou de fato que conhecia a palavra de Deus. Note aqui que ele usa a própria palavra de Deus para tentar desviar Jesus das escrituras. É esta a forma que ele age muitas vezes. Ele sabia de fato que se Jesus se jogasse, iria ter um espetáculo dos anjos o segurando. Essa é a tática mais vista de forma clara hoje. “os espetáculos da fé”, “shows da fé”. O diabo tem afastado muitas pessoas da doutrina do Senhor utilizando a palavra de Deus; muitos tem se desviado utilizando a seguinte expressão: “agora encontrei a verdade”. Cuidado! Esta tentação tem o real intuito de desviar você da palavra de Deus. O nosso Deus não quer espetáculos da fé acontecendo. Ele quer que vivamos de acordo com a sua palavra, observando a sã doutrina da salvação.
Vamos agora à última tentação: “te darei todos os reinos do mundo se ajoelhado se prostrar e me adorar” (Mt 4,9). Aqui o diabo revela a maior das suas intenções através de uma mentira. Apresenta-se como dono das riquezas. Veja o caminho percorrido: primeiro tenta levar Jesus para desviar da vontade do pai, depois a se desviar da palavra de Deus e por último desviar Jesus da cruz. O diabo deduzia que por meio da cruz a salvação chegaria até nós, e com isso ele teria mais trabalho para matar, roubar e destruir. Aqui ele revela o maior de todos os seus desejos. Quer ser adorado, revela aqui o que o profeta Isaias diz: “Escalarei o céus e erigirei meu trono acima da estrelas, me tornarei igual ao altíssimo (Is 14, 13-14). Tudo o que o diabo queria é ocupar o trono de Deus, mas isso nunca será possível.
Se prepare para entrar no deserto. Ali será o lugar do silêncio, da solidão, da reflexão, da tentação e da oração. Durante a caminhada passamos por muitos desertos. Quando recebemos a efusão no espírito vivemos momentos de alegria, paz, mas dificilmente se permanece na caminhada apenas estando bem. Quem nunca em um determinado momento questionou Deus, mesmo depois de experimentá-lo? Quem nunca sentiu vazio, aridez espiritual, falta de vontade orar? Isso faz parte do deserto. Quem nunca foi tentado a se desviar da vontade de Deus ou quem nunca se desviou da palavra de Deus? Enquanto caminharmos como igreja militante, saiba que passaremos não apenas por um deserto, mas por vários. Permaneçam firmes diante dos desertos, e não se deixem abater pelas tentações. O deserto é transitório. O Senhor não quer que você morra no deserto. Faça do deserto uma armadilha para o diabo. Aproveite este tempo oportuno de quaresma para refletir, orar e voltar ao Senhor. Não esqueça: Só os fortes sobrevivem ao deserto.
Emanuel Machado
Fundador da CCEA
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