terça-feira, 10 de setembro de 2013

Não pule do barco


Lc 8, 22-24



Talvez você não se lembre de ter lido esta frase nos evangelhos, porém não precisa ser nenhum exegeta pra compreender que esta mensagem ficou gravada no subconsciente dos discípulos quando sentiram que as águas do lago iriam inundar o barco.
Posso sentir a aflição dos discípulos que pareciam não entender as lições do Mestre. Entraram no barco, e era apenas para uma simples travessia, algo de costume. Jesus então muito cansado, descansou dormindo em algum canto do barco, confiando que seus discípulos iriam conduzir o barco para a outra margem.
Viagem tranquila, até que de repente, algo inesperado acontece: Um vento forte começa a soprar; talvez alguém tenha dito: é apenas um vento, isso é comum. O vento começa a se tornar mais forte e os discípulos nadam fazem. Será que realmente eles poderiam fazer algo nesta situação? - Isso o próprio Jesus irá responder mais tarde – O vento fica cada vez mais forte e aí os discípulos pareciam não compreender os ensinos sobre poder e autoridade de Jesus, parece que não foram suficientes para que eles entendessem que a solução dependia das suas atitudes.
Surpreendidos o vento traz uma Tempestade, de modo que o barco começa a encher de água. O medo, até então simples mecanismo de defesa do ser humano, transforma-se em pavor diante da situação. Conflito gera conflito, então posso vê-los discutindo sobre acordar ou não o mestre. – Ele está cansado, não é bom despertar deste sono, passou o dia anunciando a boa nova, deixemos descansar. Talvez essa discussão tenha demorado alguns minutos enquanto tramavam uma solução humana pra resolver aquela situação.
Com certeza todo esforço humano, de subirem as velas, remar contra a tempestade e até mesmo colocar a água do barco para fora com as mãos ou vasilhas, havia-os vencido pelo cansaço. E agora? Nem mesmo uma comunidade bem formada seria capaz de acalmar a tempestade. Uma nova discussão então começa; só que agora em meio ao barulho do vento e da água que cada vez mais tentava se aproximar dos joelhos. Em meio a gritos alguém diz: Precisamos chamar o mestre.
Nesta situação coloque-se um instante no lugar de Jesus só para compreender esta narrativa. No v. 24 vejo que os discípulos ao acordar o mestre já estavam em descontrole emocional. Veja bem, não foi apenas um só que o despertou e sim todos eles. Então, Jesus acorda em meio a gritos de desespero: Mestre, Mestre, nós vamos morrer... Isso não se diz de forma suave, alguém que se vê diante da morte não bate no ombro de alguém com uma voz mansa dizendo: olha meu amigo, eu vou morrer. Certamente o sentimento de morte os deixavam cada vez mais desesperados.
Jesus se levanta, em silêncio, se segurando em meio ao vai-e-vem do barco, balança a cabeça, chega até a proa e ordena ao vento e à tempestade para se acalmarem, e assim foi feito. Um silêncio ensurdecedor toma conta daquele lugar. Antes ventos fortes, agora brisa suave; Jesus depois de instantes de silêncio olha para os discípulos e solta: Homens de pouca fé. Em meio a murmúrios e olhos estupefatos diante daquele fato, em sussurros os discípulos comentam: Quem é este homem, que até os ventos obedecem?

É bem verdade que diante de algumas situações nos encontramos assim. Jesus nos permite muitas vezes direcionar o barco. E direcionar o barco também significa se responsabilizar pela viagem. Comandar as situações contrárias e chegar até o destino desejado. As tempestades se formam com o vento, e assim em nossa vida os sofrimentos são gerados pelos pequenos conflitos. Conflitos estes que muitas vezes deixamos para resolver depois e vão gerando em nós marcas capazes de nos deixar em desesperos.
Outros sofrimentos são gerados pelas nossas escolhas. Desviamos o destino final do barco e aí batemos de frente com situações dolorosas. Cabe a nós colhermos o resultado desta escolha, e se o barco quebrou durante esta viagem, precisamos consertá-lo para retomarmos a rota.
Alguns são gerados por situações fortuitas como morte de alguém que amamos ou uma doença grave que aparece de repente sem nenhum histórico. Isso tudo têm uma razão, talvez não pudéssemos evitar esta perda, ou nem sabíamos de tal situação quando fomos surpreendidos pelo fato. Mas aqui transcrevo o que gostaria de deixar nesta mensagem: PERMANEÇA NO BARCO.
Duas lições interessantes aprendo nesta narrativa:
A primeira é que Deus nos deu poder e autoridade (Mc 9,1) para resolvermos as situações difíceis em nossa vida. Se ele deu a direção do barco em nossa mão, é porque ele acredita que somos capazes de resolver as situações adversas;
A segunda é que mesmo diante de toda situação e que nos leva muitas vezes a situações de desespero nos fazendo questionar a nossa fé, não devemos pular do barco, pois este, mesmo com toda tempestade ainda é o lugar mais seguro. O barco representa aqui a tua família, a tua Igreja, a tua vocação. Mesmo que você se encontre em situação que humanamente é impossível de solução, NÃO PULE FORA DO BARCO, pois do contrário você morrerá em meio a tempestade. Não abandone a tua família. Insista, ore, acredite, confie no tempo de Deus, pois ele fará tudo ao seu tempo. Não abandone a tua Igreja, não abandone a sã doutrina da salvação. Muitos pulam de igreja em igreja não porque amam a Deus e sim porque querem apenas satisfazer os seus desejos. Igreja hoje virou mantimento de prateleira de supermercado. Onde me agradar mais eu vou. Não buscam mais o Deus das curas, e sim as curas de Deus. Estão interessados apenas em receber dádivas, não querem adorá-lo, não querem compromisso, não querem conversão. Quando na igreja não se sente bem, saem à procura de outra. E pra essa gente Deus diz: VOCÊS IRÃO MORRER AFOGADOS.
Não desista da tua vocação. Somente por ela você pode ser salvo; persevere em teu Carisma com fidelidade à tua comunidade, pois é lá o lugar mais apropriado para viver sua vocação. Não abandone tuas responsabilidades. Insista, lute, vá até o fim, pois se você abandonar devido às tempestades, certamente se afogará.

“Só saia do barco quando Jesus lhe der esta ordem, do contrário, NÃO PULE FORA DO BARCO”.

(Emanuel Machado)

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