Em nossos dias, anunciar e testemunhar o Evangelho exige de nós coragem e ousadia. Os primeiros cristãos foram testemunhas oculares daqueles que deram continuidade ao Evangelho de Jesus Cristo não apenas com palavras, mas deixando suas marcas nas catacumbas, dando prova de fidelidade à Deus.
Há desafio em nossos dias, e é preciso um anuncio autêntico traduzido em ações. Um Anúncio sem testemunhos não pode trazer conversões. Na ocasião em que o Papa emérito Bento XVI recebeu o novo Patriarca da Babilônia dos Caldeus, Sua Beatitude Louis Raphael I Sako, o então Cardeal Leonardo Sandri, prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais, citou as duas cartas que Bento XVI dirigiu a ele e ao novo Patriarca. Em ambas, o Papa "menciona a graça do martírio, não apenas como um dom precioso do passado, mas também como dimensão permanente da autenticidade cristã".
Hoje, dia do martírio de João Batista, transcrevo um trecho da leitura patrística das Homilias de São Beda Venerável, presbítero (Sec. VIII)
Não há que duvidar, se São João suportou o cárcere e as cadeias, foi por nosso Redentor, de quem dera testemunho como percursor. Também por ele deu a vida. O perseguidor não lhe disse que negasse a Cristo, mas que calasse a verdade. No entanto morreu por Cristo. Porque Cristo mesmo disse: Eu sou a verdade (Jo 14,6); Por conseguinte, morreu Cristo, já que derramou o sangue pela verdade. Antes, quando nasceu, pregou e batizou, dava testemunho de quem iria nascer, pregar, ser batizado. Também apontou para aquele que iria sofrer, sofrendo primeiro.
Um homem de tanto valor terminou a vida terrena pela efusão do sangue, depois do longo sofrimento da prisão. Aquele que proclama o Evangelho da liberdade, da paz celeste, foi lançado por ímpios às cadeias; foi fechado na escuridão dos cárceres quem veio dar testemunho da luz e por esta mesma luz, que é Cristo, tinha merecido ser chamado de lâmpada ardente e luminosa. Foi batizado no próprio sangue aquele a quem tinha sido dado batizar o Redentor do mundo, ouvir sobre ele a voz do Pai, ver descer a graça do Espírito Santo. Contudo, para quem tinha conhecimento de que seria recompensado pelas alegrias perpétuas não era insuportável sofrer tais tormentos pela verdade, mas pelo contrário, fácil e desejável.
Considerava desejável aceitar a morte, impossível de evitar a força da natureza, junto com a palma da vida perene, por ter confessado o nome de Cristo. Assim disse bem o Apóstolo: Porque vos foi dado por Cristo não apenas por crer nele, mas ainda sofrer por ele (Fl 1,29). Diz ser dom de Cristo que os eleitos sofram por ele, conforme diz também: Os sofrimentos desta vida não se comparam à futura glória que se revelerá em nós (Rm 8,18)
Vivemos ainda hoje estas perseguições. Cada vez mais as leis civis tentam limitar o Evangelho ou "adptá-lo" à cultura, ou as mudanças morais que vem acontecendo. Mas, o próprio Jesus deixou claro: "Se perseguiram-me, perseguirão também a vós" (Jo 15,20). É uma nota característica e perene da Igreja de Cristo: ela é Igreja de Mártires. Se queremos ser cristãos autênticos, precisamos a todo instante dar testemunho da verdade, pelo qual o Mártir São João Batista deu. Não podemos nos calar diante das artimanhas de satanás contra a família, contra a vida e contra os valores bíblicos. O Apóstolo Paulo nos ensina: "Não vos conformeis com este mundo (Rm 12,2a). Eis aqui o nosso desafio. Não tomarmos a forma do mundo, mas viver plenamente na verdade que é Jesus Cristo!
(Emanuel Machado)
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